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A Trama

“Mas então a Grande Praga da Primavera varreu os Sete Reinos, afetando todos, exceto o Vale e Dorne, onde as fronteiras e passagens nas montanhas foram fechadas. O pior golpe de todos foi em Porto Real. O Alto Septão, a voz dos Sete na terra, morreu, assim como um terço dos Mais Devotos, e quase todas as irmãs silenciosas da cidade. Cadáveres eram empilhados nas ruínas do Fosso dos Dragões até atingirem três metros de altura, e, no fim, Sangue de Corvo pediu para os piromantes queimarem os corpos onde estavam. Um quarto da cidade pegou fogo com eles, mas não havia mais nada a ser feito.”  —————— O Mundo de Gelo e Fogo.

Reminiscências de uma prostituta 

A canção que irrompia através da taberna soava fúnebre; nem mesmo o mais dedicado dos bardos seria capaz de extasiar uma plateia tão miúda. A Grande Praga da Primavera tinha atingido seu pico há menos de um ano (e ainda matava), e o povo comum ainda temia que a desconhecida doença retornasse com a mesma intensidade que outrora os havia ceifado. Os mais vulneráveis escondiam-se nas vielas escuras, esperando a morte pela doença.


Mirelle, ao contrário das outras prostitutas, precisava buscar sustento. Os temores da morte eram insignificantes frente às mazelas dos homens. Quando a porta de madeira do âmbito irrompeu, adiantou-se para recepcionar um cliente desconhecido antes que qualquer outra moça ousasse servi-lo.


Aos vinte e sete dias de seu nome, atuava no ramo há dez anos, mesmo que a contragosto. O seu pai, um ajudante da forja, havia se acidentado e, incapaz de trabalhar, recorreu aos vícios alcoólicos; tornando-se agressivo e sem prover para a família, foi abandonado pela mãe, que resignou a filha mais velha ao fatídico destino de violência e pobreza. Neste meio tempo, Mirelle tinha tido quatro pequenos de pais diferentes, dos quais três morreram na primavera.


Nascida na Campina, dois anos antes havia percorrido a maior parte do trajeto da Estrada da Rosa até conseguir convencer um homem a ofertá-la auxílio em sua charrete para a Campina de Vaufreixo, onde o Torneio de Vaufreixo a rendeu o suficiente para retornar para casa com dois ou três veados de prata entre inúmeros tostões e vinténs. Os pequenos rebentos comeram codornas pela primeira vez. Em uma memória doce, os tinha gravado limpando os dedos lambuzados em seus pequenos lábios, mas, pouco depois, o Estranho os tirou dela.


Agora, contudo, mal tinha o suficiente para apaziguar sua fome. Que a Mãe a perdoasse, mas há alguns dias questionava-se se devia ceder ao desespero e comer uma sopa de ratos, ou sucumbiria a inanição a qualquer momento e as permutas com a taberna ou o pequeno mercado era sempre absurda. Por um pouco de milho ou aveia, o dono da tenda de cereais exigia duas noites de serviços.


O cliente desconhecido caminhou até o balcão de madeira acinzentada, onde faltavam dois ou três pregos, e cedia lentamente à ação do tempo. Sentou-se em um dos pequenos bancos, envolvendo Mirelle com a destra com a astúcia inerente a um homem.


— Cerveja — disse com um tom de voz rouco que trazia um sotaque que a prostituta não conhecia. — Para mim e para minha acompanhante — e moveu sua cabeça lentamente na direção da mulher. Usualmente, não bebia, mas na companhia de um cliente (desde que pagasse), não recusava. As vestes eram tradicionais de um homem westerosi, mas não pareciam maltrapilhas, contudo sua pele levemente bronzeada denunciava a exposição ao sol. Seus lábios eram pequenos e finos, mas tinham um formato aprazível, além das bochechas cheias e o emaranhado de ondas negras que cobria sua cabeça, em um corte retalhado que permitia que uma franja caísse em sua testa e um rabo-de-cavalo pendesse para trás.


Antes que surgisse o desespero por sua ânsia masculina, bebericou da cerveja amarga e, movendo as grandes orbes castanhas, escuras como o oceano noturno, voltou-se para a mulher. — Gosta de histórias? — Mirelle apenas assentiu, afinal, seus gostos não importam enquanto estava trabalhando. Se os homens contassem uma piada, ela ria; se falassem sobre um momento triste, chorava. — Então deixe-me contá-la sobre um grupo de homens que subiram e desceram as montanhas, tomaram uma taberna e mataram todos os ratos dentro dela. 


Na manhã seguinte, não havia música, nem prostitutas cansadas, tampouco homens bêbados. A taberna era apenas silêncio, sangue e vísceras.

Caro Leitor,


Não se engane com a premissa de tempos de saúde e fartura, pois os campos não produzem como outrora. As asas negras dos corvos trazem consigo as más notícias dos meistres. Como seu narrador, devo alertá-lo: estes não são tempos de paz.


Nosso rei, Aerys I, sucedeu seu pai, Daeron II, o Bom, após sua morte em 209 d.C. Os últimos anos não foram gentis com Westeros, tampouco com a Campina. Dois anos antes, durante o Torneio de Vaufreixo, em 209 d.C, o Príncipe Baelor Targaryen morreu por um infortúnio. No mesmo ano, seus filhos, o Príncipe Valarr e o Príncipe Matarys e seu pai, o Rei Daeron II, morreram na Grande Praga da Primavera. 


A doença foi tão mortal em seu auge que 4 a cada 10 homens morreriam na manhã seguinte de contraí-la e as cidades portuárias e mais populosas foram as que mais sofreram. Vilavelha, uma das maiores cidades de Westeros, localizada no coração da Campina, só não foi mais afetada do que a Capital, Porto Real. Castelos inteiros foram abandonados com corpos em decomposição e o odor da morte acompanhava cada viela estreita do mosaico desta cidade. Os corpos eram recolhidos e queimados. Noite e dia, a fogueira nunca apagava. E, mesmo hoje, a praga ainda mata - e muito.


Agora, estamos em 211 d.C, e os homens desconfiam uns dos outros, seja pela doença, seja pela traição. E ninguém é verdadeiramente confiável - mesmo que na região mais próspera dos Sete Reinos. Há poucos anos, dividiram-se em seus próprios interesses, com alguns Lordes apoiando o então rei, Daeron II, e outros apoiando seu irmão bastardo, Daemon Blackfyre. 


Daeron II pode ter sido chamado de “O Bom” e amado por muitos, mas alguns não possuíam tal apreço pelo finado rei. O seu casamento com Myriah Martell, a Princesa de Dorne, foi orquestrado por seu tio, Baelor I, como solução para a anexação de Dorne aos territórios da Coroa. Baelor conseguiu Dorne, mas irritou profundamente os Senhores das Marcas, que odiavam os dorneses tão fervorosamente quanto eram odiados de volta. Durante a Rebelião Blackfyre, apoiaram Daemon I Blackfyre, considerando que Daeron II era pacífico demais e, pior do que isso, dividia sua cama com uma dornesa. 


Em 196 d.C, àqueles que juraram suas espadas ao pretendente Blackfyre perderam parte de sua credibilidade quando foram derrotados na Batalha do Campo do Capim Vermelho. Os senhores das Marcas, e aqueles que apoiaram os Blackfyre, foram obrigados a ceder seus herdeiros como protegidos de lordes rivais, além de perderem parte do ouro de seus cofres e de seus territórios.


Neste mesmo período, Daeron II elevou algumas pequenas casas de cavaleiros por sua participação na guerra, recompensando os que foram fieis à sua causa.


Mas aqueles que provam poder não aceitam perder e mesmo que o Corvo de Sangue seja a Mão do Rei, a ameaça Blackfyre ainda espreita a Coroa, alimentando-se das migalhas como corvos em um campo de batalha, puxando a carne podre de um amontoado de ossos cadavéricos, ou seria esse o pretendente Daemon II Blackfyre preparando-se para sua ofensiva? 


Os lordes se entreolham e ameaçam, veladamente. Uma breve tosse e, então, são inimigos. 


Há menos de uma volta de lua, Dagon Greyjoy e seus homens de ferro avançaram, saqueando e sequestrando, através da costa oeste de Westeros, atacando a ilha de Árvore e pilhando e queimando a Pequena Dosk. É necessário atestar que os homens não estão felizes? Ah, você certamente já sabe. 
Nenhum senhor gosta quando roubam-lhe o que é seu.


Como se não bastasse a lembrança ainda fresca da doença mortal e os recentes ataques dos homens de ferro, os campos não são capazes de produzir o suficiente para alimentar aqueles que sobreviveram à doença ou a espada; uma seca jamais relatada nos anais da Cidadela ameaça a lavoura, fazendo com que os campos produzam tão pouco que a população já perece pela fome. A Campina, responsável por alimentar boa parte das outras regiões, mal colhe grãos suficientes para alimentar aos seus, quem dirá aos outros. E mesmo se desejasse, as estradas tornaram-se tão perigosas que a cada curva na Estrada da Rosa, um grupo de batedores organizará uma emboscada; comitivas inteiras foram despojadas frente ao desespero e apenas os corajosos - ou loucos - ousam se aventurar em um trajeto que muito provavelmente culminará em morte.


Os pequenos Lordes, vassalos dos Grandes Lordes, questionam as decisões de seus suseranos e, estes, preocupados com a manutenção do seu próprio poder, indagam ao Lorde Tyrell. O último, sabiamente, direcionava o ódio crescente dos seus homens para as Marcas de Dorne, aos dorneses, e aos recentes ataques o sul da Campina, que deixaram um rastro de medo e morte.

Campina,
211 d.C.

114 anos após o nascimento de Rhaenyra Targaryen
&
70 anos antes do nascimento de Daenerys Targaryen

Premissas Iniciais


.153 d.C..  Um dragão fêmea, raquítico e doente, morre em Porto Real. A sua morte cimenta a extinção dos Dragões.
 

.169 d.C..  Ocorre o casamento de Daeron II Targaryen e Myriah Martell. Este acontecimento sela a completa anexação de Dorne aos Sete Reinos, sendo reforçada em 187 d.C com um novo enlace entre as famílias.

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.187 d.C..  Daenerys Targaryen, irmã de Daeron II, casa-se com Maron Martell, como parte do acordo de anexação e paz. 

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.196 d.C..  Eclode a Primeira Rebelião Blackfyre, liderada por Daemon I Blackfryre. Os Grandes Bastardos são derrotados na Batalha do Campo do Capim Vermelho e seus aliados são punidos. Os Lordes da Campina que apoiaram Daemon são obrigados a entregar seus herdeiros como protegidos de Lordes que apoiaram Daeron II, além de perderem território e dinheiro.

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.209 d.C..  O Lorde Ashford organiza um grande torneio em nome de sua filha. Durante este evento, o Príncipe Baelor Targaryen acaba morto. No mesmo ano, surgem os primeiros focos da Grande Praga da Primavera, que ceifa a vida dos dois filhos de Baelor, Valarr e Matarys e de seu pai, Daeron II, além de assolar a Campina. No mesmo ano, Aerys I ascende ao trono como sucessor de seu pai.

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.211 d.C..  Sucessivos ataques ocorrem no sul da Campina, provenientes das Marcas de Dorne, o que reacende o desgosto dos Lordes da Campina para com os dorneses. Dagon Greyjoy ataca a Ilha da Árvore e Pequena Dosk e uma seca jamais presenciada ameaça os campos de produção de grãos da Campina.

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